Altar das Lamentações
Ajoelho-me perante seu corpo
Nu, estirado numa mesa de mármore.
O frio habita suas curvas pálidas
Enquanto a vida escorre pelas frestas áridas.
Você sabe que rezar é a única saída
Pedir perdão por todos os pecados que lembrar
Foram tantos dias caminhando nas trevas…
Foram tantos dias caminhando pelo mundo sem olhar para o céu…
Você consegue se lembrar do nome de seu criador?
Talvez agora, com o medo e a dor alojando-se em seu interior
Talvez agora você lembre-se de alguma oração perdida no passado…
Agora você é o altar de minhas lamentações
pois é toda a vida que posso ter de volta
em teus olhos eu tenho a chance de olhar novamente para o sol
não que ele seja capaz de me destruir
mas para um homem sem dignidade
as trevas é melhor para se encobrir
mas agora, você é a resposta para todas as minhas perguntas
é toda redenção que preciso para chegar próximo do céu
é tudo que preciso para adormecer tranquilamente
por uma noite apenas, ao menos.
Eu perdi minha alma
Minha fé e meu amor
A esperança partiu com o tempo
Matando assim os restos do sentimento
Que habitaram a carne antigamente fraca
Agora forte e seca pelos anos
Sem qualquer mensagem direta ou indireta
Minha vida é uma questão mal formulada
Um sorriso refletido num espelho quebrado
Uma alma acorrentada nos saguões escuros do próprio interior
Eu quero ver o sol, mas tudo que avisto é um facho de luz distante
Fraco e horripilante
Que transforma meus pensamentos em açoite
E é por isso que nesta noite
Você é escolhida para minhas orações
Pelo resto de minha alma, pelo resto da minha humanidade
Para embriagar meu corpo vazio e frio
Ajoelho-me diante de ti, meu altar das lamentações.
Autor: Adriano Villa